Síndrome do ex-namorado
junho 28, 2010
Claudia Lordao Adelaide, Austrália
Este mês vai completar 3 anos que vim morar na Austrália. Ainda não fui visitar o Brasil e volta e meia sofro o que chamo de síndrome do ex-namorado.
Você que terminou o namoro, mas agora não lembra direito o porquê. Só consegue pensar em como o seu ex era divertido. E sexy. E bonito. Resolve ligar pra ele, pede pra voltar e em menos de 1 semana – putz – você lembra perfeitamente a razão de ter terminado. Você sabe! Com ele, nunca vai dar certo!
É assim que às vezes me sinto em relação ao Brasil. Porque estou longe, porque sinto saudades, volta e meia esqueço porquê decidi ir embora do meu próprio país.
Quando a síndrome do ex-namorado bate, não consigo me lembrar do pânico que sentia ao dirigir pelas ruas do Rio. Esqueço que não parava mais em sinal de trânsito, pois podia ser assaltada. Esqueço que não aguentava mais a corrupção e a impunidade que infelizmente assola o nosso país. Não lembro das crianças dormindo nas ruas, dos tiroteios… esqueço totalmente como a desigualdade social é gigantesca no Brasil. Esqueço como vivia estressada e correndo e com medo o tempo inteiro.
A síndrome do ex-namorado é um fenômeno real, que assola muitas das brasileiras que vivem por aqui. Fazer o quê?
A verdade é que, pra mim, o Brasil será sempre meu eterno namorado, o meu primeiro amor. Mas não adianta fantasiar. Eu sei muito bem porque “terminei” com ele.
E é bem por aí que o sentimento vai. Minha gente, em Salvador eu atropelei (sem querer, eu estava querendo fugir mesmo) um ladrão perto de casa. Se eu me atrasasse um pouco, ou Leo, ou minha mãe, já ficava todo mundo preocupado. Mas o pior, além desse medo todo é ver tanta criança, tanta gente, pedindo esmola. Muito injusto!
Plano de saúde paga absurdos R$ 20,00 por consulta com psicólogo! Esse valor para cobrir material para a sessão, tempo na sessão e pós sessão, para você planejar e estudar sobre aquele cliente. Ah, fora a parte da clínica. Um absurdo!
É muito triste ter de sair do seu país, da sua casa, deixar a família, os amigos e ter de lutar por uma vida melhor do outro lado do mundo, isso tudo porque o Brasil não comporta meu sonho de viver bem (que é bem básico: uma casa, um carro, bom emprego, sem pobreza, sem assalto, sem corrupção...). Quando a gente mora no Brasil, vê tanta coisa errada, fora do lugar, já é normal, não é a toa que muita gente vota pensando "ele rouba, mas faz". As regras estão de ponta cabeça, se é que tem alguma. E não, aqui no Alabama não é o melhor lugar do mundo (vixe, tá longe disso), mas ainda permite que eu tenha uma vida boa (com um mero salário de residente, o que no Brasil é impossível) e que sonhe, tendo objetivos completamente possíveis.
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