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22/04/2013

Das coisas estranhas

1.Toda vez que preciso escrever números aqui em algum documento para um americano, preciso ser cautelosa porque eles não entendem meu 1 e meu 7. Eu faço o 1, com um tracinho embaixo e corto o 7 no meio, sabe? Foi assim que aprendi, mas aqui, quando faço o 1, eles me perguntam se é um 7 e quando faço um 7, eles me perguntam que número é aquele. Isso acontece com mais alguma expatriada ou é algo típico do "Alabema"? Um dia desses, precisei preencher uns papéis e a moça do RH fez essas perguntas. O chefão do RH, que é um amor, respondeu na minha frente "ah, antes eu também tinha dificuldade de entender esses números dos brasileiros, mas agora já entendi essa diferença".
Os número na primeira linha são como eu faço, na segunda linha,
como eu deveria fazer para ser melhor compreendida. Note que
tenho dificuldade para fazer o 7 sem o traço no meio :).


2. Esses dias, estava indo daqui “prali” na net e me deparo com a imagem abaixo. O que faço? Mando a imagem para marido dizendo que tinha adorado e que estava na promoção. A resposta dele “Vixe...mas se gostou, compre ué”. Aí eu fiquei preocupada, porque sério, meu marido achar que eu, em algum momento, acharia isso bonito, foi duro! E era primeiro de abril, mas ele preferiu acreditar que eu amei a tal bota e que estava empolgada para comprá-la. #preocupada

imagem daqui


3. Estou horrorizada com o preço do leite Ninho no Brasil. Meu marido disse  que a lata pequena está custando R$11. Aqui, ela vem direto do México e eu pago uns $4.40, em Salvador, a fábrica da Nestlé fica em Feira de Santana e o preço é esse absurdo (1 hora de distância, quer dizer, 100 km).

Não só meu marido sabe tirar foto sem foco... mas em minha defesa: estava usando o celular

Pausa
Eu sempre achei esquisitão usar tempo para medir distância, como você vai prever tantas variáveis na estrada? Mas aqui nos EUA essa medida faz parte do dia a dia. Mais do que milhas, as distâncias são dadas em tempo “eu moro a 12 minutos da UAB”.
Despausa

4. Esses dias marido foi almoçar no Veterans Hospital e olha como é a nota fiscal? (Ficou parecendo que ele saiu de casa para comer lá, mas na verdade, ele perdeu o almoço porque estava enrolado em algo e o que lhe restou foi comprar um lanche e esperar um tempinho entre um paciente e outro para comer)
Muito interessante né? Bom para quem está de dieta, para quem tem diabetes, para quem precisa ingerir mais ou menos sódio. Bom para as pessoas tomarem consciência das calorias porque infelizmente, tem muita gente que não acha esse tipo de refeição ruim para a saúde (juro!). E sim, médico também come junk  food.


5. Na tentativa de me hidratar mais, resolvi comprar o negócio abaixo. Pense em um arrependimento! Isso só pode ser considerado água de coco por quem nunca tomou uma original. Na moral, empate técnico com a Dr Pepper e Root Beer. Inecati!!!!



































































15/04/2013

Da viagem e dos presentes made in Brazil

Aí que eu disse aqui que marido resolveu bater perna no Brasil e me largou aqui (mimimi). Duas semanas antes dele viajar, já começou "o sermão" caprichado das coisas que eu tinha que fazer:

1. "Lembre de trancar a porta (da frente da casa) todos os dias
2. "Por favor, coma! Se alimente, porque sua situação já não está muito boa..."
3. "Lembre de pagar essas duas contas"

Sério, ele não precisava falar nada disso, porque né, eu lá iria fazer algo do tipo? Ele tem lá suas razões para lembrar desses itens com muito amor no coração, tendo em vista o meu histórico, mas eu achei que já estava demais. Resultado? Já na primeira noite, esqueci a porta aberta, mas lembrei na madrugada e desci para trancar a porta. Eu até comi, mas não o que deveria e não na frequência correta (pô, odeio fazer comida só para mim!). Como não consegui dormir, comecei a ter um sintomas engraçados, que meu marido já achou que era neurológico e me disse "você tem de dormir!!!". Eu até sei disso, mas quem disse que eu consegui? Nos 3 primeiros dias foram umas 4 horas de sono, acordando umas 10 vezes. No quarto dia, quando finalmente consigo dormir melhor (acordei só umas 5 vezes, mas o alarme de incêndio resolveu disparar). No final, consegui dormir relativamente bem na véspera da chegada de marido e dormi como um urso no inverno quando ele chegou. E claro que esqueci de pagar as contas e a multa foi super alta, dava para comprar um vestido para mim. Droga!

Sim, já que marido estava no Brasil, fiz uma lista com itens brasileiros que gostaria. Você acha que ele lembrava das coisas? Então resolvi mandar para minha sogra. Veio todos os itens, em proporções exageradas. Aí, marido foi me dando as coisas e "brigou" dizendo que eu pedi muito chocolate para a mãe dele (ela mandou 3kgs de chocolate?!). Eu abri o email que mandei com a lista e lá estava escrito que eu queria tal e tal chocolates (que por sinal, eu nem gosto- mas isso não significa que não como- eu disse que iria dar de presente) uns 6 de cada e mais uns Ouros Brancos (o plural fica assim?), porque eu amo. Marido leu o email e disse "Nossa, minha mãe é louca!". Eu acho mesmo que ela ficou foi com dó da minha lista (até cream cracker eu pedi!!) e resolveu extrapolar um pouquinho. Eu sei que na mala de marido tinham 5kg de roupa+necessaire+a própria mala e 24kg de gostosura. Quem ganhou com o superávit de chocolate foram os meu colegas do trabalho e amigos brasileiros que vão ganhar mimos (não tudo né? Um pouco...).

Além da parte nada diet, ainda ganhei havaianas lindas (as minhas quebraram), cocada de cacau feita pela sogra com cacau da fazenda dela (que óbvio que só divido com marido...sou ruim mesmo, fazer o quê?) e panos de pratos que a madrinha do marido enviou para a gente. Sério, eu estava mesmo precisando de pano de pratos brasileiro, daqueles bonitinhos e bordados porque eu nunca achei desses por aqui. Não é muito amor?


De que adianta ter uma super máquina se seu marido não consegue focar?

Ps: só para esclarecer que, na verdade, eu que não quis acompanhá-lo ao Brasil, pois em maio será a formatura da minha prima e também da minha cunhada (irmã dele) e por nada nessa vida que eu iria perder mais um evento da família! Fora isso, minha irmã, que não vejo há 5 anos, resolveu passar uns dias na Bahia e iremos viajar.

09/04/2013

Ego (quase) inflado

1.
Estou eu deitada na maca, esperando  para fazer o último exame no coração. Entra um técnico. Um amor de pessoa e começa a conversar. Primeiro ele fala que meu inglês é ótimo (score!), mas a melhor parte estava por vir. Aqui, todo profissional checa se você é você mesmo, normalmente perguntando seu nome e data de nascimento (lembre que a saúde aqui é uma linha de montagem, nesse dia, por exemplo, eu passsei por 4 profissionais diferentes). Neste caso, como eu fui deixada por outra técnica, ele só perguntou meu nome e colocou no sistema. Alguns segundos depois ele perguntou "diz aqui que você tem 29 anos, deve ter algo errado...é isso mesmo?", eu "não, está certo mesmo, 29 anos", ele "sério?! Você parece muito mais nova". Tem como não ficar feliz?! Daí eu me lembro que na sala de espera só tinha gente velhinha, afinal de contas, quantas pessoas com 29 anos precisam testar o coração? Talvez ele tenha me achado mais nova pelo tipo de referência que tem, né?



2.
Aí que eu fiz os três-mil-quinhentos-e-vinte exames no coração (fui para fazer 1 e o médico resolveu fazer mais, ai meu bolso!) e tive que retornar ao hospital para devolver a máquininha do Holter. Como resolveu fazer "calor" (esquentou), lá vou eu atravessando o hospital (do estacionamento dos médicos até o consultório são 15 minutos andando rápido DENTRO do hospital, será que é grande isso aqui?), daí avisto o lugar de doação de sangue e penso "será que eu não faço a doação hoje?".

Veja bem, doar sangue regularmente está na minha lista de coisas para fazer desde sempre, mas o medo da agulha e as desculpinhas estão sempre presentes. Daí, entreguei a parada e quando eu volto e passo em frente ao lugar de doação de sangue vem uma voluntária falar comigo sobre doação de sangue. Bom, eu fui doar né. (quando contei para marido, ele brigou por 10 horas "como você vai doar, sem saber qual o seu problema?", eu acredito que não seja nada, então nem me preocupei com isso)

Espero 30 minutos para ser chamada, sou atendida por uma chinesa (depois descubro que ela é chinesa por parte de pai, francesa por parte de mãe e que cresceu nos EUA). Ora, chinês tem um sotaque muito carregado e eu sempre tenho um pouco de dificuldade de entender (não é que eu fique pedindo para ela repetir as coisas, eu consigo entender com esforço- o mesmo que os americanos devem fazer quando eu falo). Aí ela pediu minha identidade. Ficou olhando, olhando,olhando e resolveu me perguntar qual era meu último nome e o primeiro. Ela simplesmente não conseguiu identificar...perguntou minha data de nascimento, eu disse..e perguntou meu endereço. Todas as informações estão presentes na minha carteira de motorista, mas né, porquê ele me pediu a dita cuja e ficou perguntando tudo, só Freud para explicar.

Vou dizer que não tive boa impressão da moça, ela estava com um jaleco podre de sujo e eu só ficava pensando na quantidade de oxiclean para limpar aquilo. Daí ela fala "você é caucasiana né?", eu "sim, mas eu sou latina também" (aqui nos EUA eles fazem um mangue com essas coisas). Ela "jura?! Você não tem sotaque nenhum. Se você não falasse, eu jamais saberia", aí eu não me aguentei e ri, ri e ri. Tipo hello? Sério gente, meu inglês é ruim, eu praticamente não uso a língua (o speaking, o resto uso bastante) aqui, infelizmente. O negócio é que o inglês dela tem um forte sotaque chinês, eu mesma não diria que ela cresceu aqui nos EUA, já que o sotaque é bem carregado. Mas mesmo assim, achei legal o comentário.

Aí, vem a técnica de enfermagem - uma americana, bem alabamense, ou seja obesa- e pergunta de onde eu sou, eu digo que sou brasileir. Ela "que sotaque fofo você tem". Hunft!!!!


3.

O melhor vem por último. Deixei marido no aeroporto e voltei triste. Resolvo passar no Publix e enquanto aguardo minha vez na fila do caixa, tem um menino de uns 5 anos junto com seu pai e irmã, atrás de mim. Ele vai olhar os chocolates, bate a cabeça, conversa com a senhora que está na minha frente. Eu não dei muita atenção, estava procurando minha carteira. Daí, ele volta correndo para perto do pai e fala "papai, achei um garota bonita", o pai pergunta "ah, foi? Quem???", a criança, coisa fofa aponta para mim. Eu achei a coisa mais linda do mundo!! "Oooowwwnnn....Obrigada. Você tão novo derretendo o coração das moças, imagina quando crescer". Daí, o pai começa "é, eu também achei ela bonita e blá, blá, blá". Assim, o pai estava se fretando para a minha pessoa. Eu achei aquilo tão absurdo que nem atenção dei. Nesse caso, eu vou acreditar que sou uma pretty girl, só porque ele era muito novinho para mentir, mas que ficou parecendo que o pai disse "filho, vê se você acha uma mulher bonita no mercado para mim, por favor", ah ficou.

04/04/2013

It's a secret but guess who is the new chief? ( ou mais de residência médica nos EUA)

E foi essa mensagem que eu recebi no WhatsApp uma tarde dessas. Assim, eu tinha certeza qual seria a resposta, mas eu entrei na brincadeira e perguntei "Who???????????" e a resposta veio em seguida "Dr Ming!" (porque ninguém acerta o nome dele e uma vez o chamaram de Dr. Ming. Porque Almeida e Ming são super parecidos, né mesmo). E então desde daquele dia eu venho dormindo com o mais novo residente chefe da neurologia da UAB. Não contente com isso, marido também enviou um trabalho para um congresso na subespecialidade que ele quer e foi aceito. Ele está de viagem marcada para Sidney. Claro que ele achou pouco tanta coisa boa e resolveu se inscrever para concorrer a um grant de viagem e conseguiu. Fora isso, ele começou a ser chamado para as entrevistas do fellow e até o momento só as universidades do norte, nas cidades grandes e frias o convocaram (o pessoal só começa o processo mesmo no final de abril, mas estou confiante que isso é um bom sinal). Tem como não sentir orgulho de uma criatura dessas?




(Já chamaram na Flórida também. Cês não tem noção como eu estou com medo do pessoal da Flórida oferecer a vaga antes das outras entrevistas)


Sim Lorna, o que significa esse negócio de residente chefe mesmo?

Na prática significa mais trabalho. Tipo muito mais trabalho. Mas em teoria significa que o comitê educacional da neuro e o professor-chefe confiam em marido para o serviço. Fora que ele terá algo de peso para colocar no currículo (aqui nos EUA, o importante é ter um currículo cheio de títulos) e para colocar nas entrevistas do fellow. É um prestígio muito grande ser residente chefe. Reza a lenda que o salário aumenta, mas "eu quero é prova e 1 real de big big!" (Rá, finalmente consegui usar essa expressão baiana!  Meu baianês está ligado, pois minhas férias no litoral baiano estão logo ali).

Eu  acho que vai ser um experiência legal para marido, ele precisa aprender a deixar de ser bonzinho e começar a desenvolver liderança. Acho que vai ser ruim para mim, pois ele terá mais reuniões e atividades no hospital. Mas acho que fecha com chave de ouro o propósito da nossa viagem para terras interioranas. Estou muito orgulhosa em pensar que essa criatura estudou até em escola pública no interior da Bahia e que hoje está aqui, sério, é muito orgulho! (Não que eu veja problema em estudar em escola pública, o negócio é a qualidade de ensino).

Para melhorar a situação, a neuro escolheu 2 chefes, então além de marido, o nosso amigo indiano também será chefe. O que acontece aqui é que a neurologia cobre muitos serviços e é muito trabalho! Alguns chefes no passado abriram mão do cargo, pois não conseguiam dar conta de estudar, trabalhar no hospital e ser chefe. Os que não desistiram, ficavam estafados com tanta coisa e desde o ano passado eles escolheram 2 residentes chefes e os resultados são bons. Eu fiquei contente, pois há uma chance de conseguirmos passar 1 mês no Brasil, o que não aconteceria se ele fosse chefe sozinho. Fora isso, como iremos mudar no próximo ano (eu confio!) e o indiano não, dá para marido tentar ajeitar para trabalhar mais como chefe no primeiro semestre e o indiano no segundo.

E para celebrar tanta coisa boa? Bom, a idéia era passar um final de semana em Atlanta e, além da comida brasileira, tipo pastel e tal, comeríamos churrasco. Porém, ficamos presos aqui fazendo taxas, trabalhos e não fomos. Marido descobriu uma pizzaria (agora que ele descobriu que pode comer pizza, está metendo o pé na jaca!) que faz pizza no estilo de Chicago (eles chamam inclusive de torta, para vocês terem uma idéia da situação difícil que enfrentamos). Pense numa pizza boa! O molho é de tomate de verdade (raridade por aqui) e tem muito recheio. Comemos muito (eu só comi uma fatia, porque tem muito recheio!) e essa pizza deixou ele satisfeito ou quase. Eu perguntei "e essa é melhor que a do Brasil?", ele "não né, a da minha mãe é muito melhor, mas essa está acima das minhas expectativas". Então tá, então :)


Ps: Para celebrar tanta conquista, marido resolveu dar uma passadinha no Brasil para comemorar e comer a  pizza da mãe  e me deixou para trás. Hunft!

Quer saber mais sobre como ser médico aqui nos EUA? Acesse mediconoseua.com 

01/04/2013

Organização do tempo, a gente não vê por aqui

Pessoa acha que precisa de um tempo fazendo coisa boa. Sem estresse, sem muito trabalho. Pessoa quer mais é cumprir com as coisas no trabalho, sair e fazer compras, almoçar com uma amiga. Pessoa "esquece" de iniciar o processo no board de psicologia, e nem se dá ao trabalho de se justificar pelo acontecido. Passa semanas só trabalhando, sem se esforçar tanto. Aí que pessoa acha que está sem ter o que fazer no trabalho e resolve marcar reunião com a chefe pedindo mais trabalho. Pessoa decide se responsabilizar por 4, eu disse q-u-a-t-r-o artigos. Claro que nesse meio tempo, pessoa recebe um convite para revisar um artigo em uma revista europeia super importante na área. Pessoa não quer aceitar, porque sabe que a área não é exatamente a mesma que ela transita, mas marido e chefe da pessoa falam o contrário. Pessoa aceita e acaba esquecendo do assunto, até receber um email dizendo que o prazo da revisão se esgota na próxima semana (PQP!). Além disso, pessoa descobre que tem 2 semanas para começar e finalizar um grant (PQP!!!). Faltam 2 semanas para uma matéria terminar, isso significa prova e mais um artigo (Tá brabo!). Pessoa recebe um email sobre a materia que ela se increveu em dezembro, confirmando o início e quando lê a ementa, gela total (sabe quando você tem certeza que a matéria é phoda com ph?). E o que a criatura faz? Entra no blog e escreve um post. Tsc,tsc,tsc, eu sinceramente não sei o que será dessa pessoa :(