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10/01/2011

Um aDeus...

E hoje cedinho vovó Júlia disse tchau pra esse mundo daqui. Ela vem lutando bravamente pela vida há uns 10 anos, quando começou a ter problemas de saúde, demência e sua condição só vinha piorando. Foi melhor assim, já estava mais do que difícil vê-la sofrer tanto, passar por tanta coisa nessa última década de vida.

Lembrei dos biscoitinhos que ela fazia quando eu era bem pequena, da galinha a molho pardo que estava sempre pronta para meu pai quando íamos visitá-la (sem dúvida, meu pai era o genro preferido). Dos primos dormindo espalhados pela sala, dos jogos de meu avô (que se foi antes de eu ser gente de fato), dela subindo e se pendurando nas árvores do sítio, da reunião com as filhas dizendo que ela teria que mudar para Salvador, da reação dela abaixando a cabeça de tristeza, do nó na garganta de todos presentes e das lágrimas de tia Dete. Depois ela se estabelecendo perto de tia Nita, morte de tio gordo, piora da saúde de minha vó, muitas hospitalizações, cuidados e agora ela se foi. A verdade que ela era praticamente uma criança, as filhas (minhas tias e mãe) cuidando, não queria tomar banho nem beber água e a gente inventando mil coisas, mil histórias para "tapear". As vezes ela ficava bem doente e começava a ver os parentes mortos e já até disse que a morte tinha chegado para levá-la. Corpo frágil e mente falhando muito. Ela começou a me chamar de Alana (minha prima mais velha), depois Inês (minha tia). Eu, certeza, já tinha sido apagada do spam dela...foi muito triste todo esse processo, mas fico feliz por saber que ela teve o melhor tratamento. As filhas sempre ajeitaram tudo e deram o possível de conforto para minha vó. O que não foi tarefa fácil, admito. A velha não era fácil :).

E mesmo vendo a situação dela, dessa luta meio que sem sentido pela vida, chorei, fiquei triste, senti minha cabeça afastada do corpo (sinto sempre isso quando estou profundamente triste, não sei explicar, mais ou menos quando você acorda de um procedimento cirúrgico, mas ainda está grog, com a cabeça pesada). Queria muito estar em Salvador, com a minha mãe, com a minha família. Leo pensou na possibilidade de uma viagem para Salvador, mas por aqui o aeroporto está fechado e o carro literalmente congelado (nem a porta abriu).

Morrer faz parte da vida, ainda mais quando se está velhinha, mas a morte de um ente querido esfrega na nossa cara nossa finitude, nossa urgência de fazer coisas boas aqui, de realizar aquele sonho de criança que é mudar o mundo pra melhor, da urgência de ser feliz desse jeito, do jeito possível, do jeito que dá.

Bom, vó Júlia, espero que você seja bem recebida aí e que finalmente fique em Paz. Sei que vai zelar pela dó-ré-mi.

Primos e primas (o que estão estabelecidos na vida, por favor), precisamos re-equilibrar o número dos "Bittencourt" no mundo, encher de alegria esse lado de cá e continuar, de alguma forma, a história dela.

Beijos saudos para todos.

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