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01/12/2011

Causos II

1. Sabe aquele dia que você está chata? Uma chatonilda daquelas? Eu estava assim e queria comer algo gostoso. Sim, tinha comida em casa. Sim, restaurante é o que não falta pelas redondezas, mas claro que eu não queria nada disso. Porque não era fome, fome era fome, desejo (não, não estou grávida) e eu queria um prato de carne do sol com pirão de leite ou aipim cozido e nesse caso, com farofa de ovo. Aí que marido vendo meu "piti-to-be" resolve que iríamos encontrar algo. Fomos numa biboquinha que ele gosta e eu não, mas né, resolvi experimentar algo. Daí que quando a gente chegou no lugar, tinha uma americana (daquelas fluorescentes mesmo) no balcão, uma hispânica (que eu vou falar que é mexicana para ficar mais caricato) limpando o chão e um moço negro ao telefone. Faltava pouco tempo para a biboca fechar e eu fiquei pensando na mistura-não-misturada americana, um monte de gente diferente no mesmo lugar. Daí, sei que o cara começa a falar alto e xingar ao telefone. A mexicana fala duro com o moço negro estressadinho "o senhor precisa sair daqui, isso não se faz" e olha para a colega americana-fluorescente, essa fala ainda mais alto e de forma dura que naquele lugar esse tipo de comportamento não é aceitável e que ele teria que sair. O moço-negro se espanta, finje que não entende o motivo, demora um pouco e sai da loja. Ele passou atrás da gente e nessa hora eu só conseguia rezar, sei lá, esse pessoal que pode andar com arma e com raiva. Porque né, se fosse no Brasil, por muito menos a coisa poderia acabar feia. Me espantei:
*ao saber que uma pessoa que não era cliente pediu para usar o telefone da loja;
* de ver que 2 mulheres trataram o moço de forma correta, mas dura e foram respeitadas;
*de notar que o moço não tentou dizer que estava certo;
*de observar que ele não revidou contra as mulheres e
*da caixa pedir mil desculpas pra gente pelo acontecido.

2. A crise está super complicada aqui. Muita gente sem emprego, muitas coisas fechando. Só que é final de ano, a correria nas lojas já começou faz tempo e deve ser horrível não ter como comprar as coisas para a família. Aí eu e marido estávamos numa loja de departamento e a gente ouve um aviso nos alto-falantes da loja de que tinha um homem negro vestindo uma roupa tal que estava sendo suspeito de pegar algo e que ele estava no andar X, perto das roupas femininas. Tá, eu ouvi, mas juro que não levei a sério. Até meu marido que é sempre quieto começar a chamar meu nome alto e pedir para que eu ficasse perto dele. O aviso foi repetido várias vezes até que avisaram que a situação estava controlada. Eu senti medo, mas eu senti muita pena. Muita pena mesmo. Eu estava lá, com salário na conta, feliz e contente comprando e comprando, enquanto aquele moço estava lá, tentando roubar algo de uma loja de departamento. Fiquei com dó, pena dele ter sido pego e ter de se explicar. Situação constrangedora essa. Aí eu lembrei como era no Brasil, tanto pedinte, tanta criança nas ruas que as vezes me deixava anestesiada diante de tanta miséria. Agora que essa cena é muito mais rara para mim, eu volto a pensar naquela pessoa, naquela situação horrível que é querer e/ou precisar e não ter como conseguir.

9 comentários:

  1. O lado triste dos eua e a crise

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  2. Rapaz (bem baiano mesmo), a pobreza é ruim em qualquer lugar do mundo, seja aqui ou aí.

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  3. Olha fiquei triste com esse tipo de situação..infelizmente a coisa ta feia para todos os lados só que aqui no Brasil em conseqüência de emprego e crescimento está em muito bom ''andamento''.
    É ruim mesmo passar por uns constrangimentos desses...

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  4. Sei bem Lorna! Tem dias que sou chatissssssima!!!! rsrs

    Com relação a crise e a essas situações que voce presenciou, não sei se tenho dó. Muitos deles não querem saber de trabalhar! Não querem ter que ralar para conseguir as coisas. Porque tantos imigrantes ilegais conseguem ter suas casas, seus carros e fazer compras? Eu entendo que a crise está feia e que o desemprego está grande, mas não vejo um esforço tão grande deles em ir atras e batalhar. Estou generalizando... sei que não são todos assim... mas eles que tem documentos americanos e tantas oportunidades acho que não aproveitam tanto quanto quem vem de fora... Não se vê muito americano limpando casas ou trabalhando de babá... pode ser que com a crise isso esteja mudando...

    Bjs querida!

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  5. Ai que doh Lorna, cheguei a chorar. Realmente esta muito dificil mesmo.

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  6. no Brasil estavamos acostumadas a cenas de pobreza...sempre subiam criancas no onibus pedindo e a maioria das pessoas ignora. Agora qdo vejo a cena, me da uma vontade absurda de chorar e fico pensando como a gente vira "pedra" qdo ve isso todo dia. bjs!

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  7. por isso eu nao gosto de reclamar de NADAAAA tem muita gente que tem menos que eu, e que as vezes nem reclamam... vc sempre me faz ri com seus post, mas esse me deu uma licao, que devo ser mais grata ainda pelo que tenho.
    bjs Lorna, vc nem disse se conseguiu comer algo que passou seu desejo, conta depois tah? bjs

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  8. Gente, olha o constrangimento dos caras nessas duas situaçoes.
    Aqui, me sinto como vc se sentiu, qdo pessoas nao podem ter o que querem. Logo qdo cheguei, eu ficava me perguntando quando é que um dia a situaçao iria melhorar no Brasil...

    Bjs!

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  9. aqui tem muitaaaa gente pedido, existe um grupo chamados "os desplezados" sao pessoas que foram expulsas das suas casas pela guerrilha, entao imagina parar num sinal com dezenas de cartazes segurados por pais e filhos escrito "nos ajude por favor somos desplezados" antes de entender do que se tratava já morria de dó e sempre ajudava depois de entender ptzzz me angustia ate hj parar nos sinais...

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