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09/12/2013

Do meu coração que resolveu acompanhar o ritmo do Alabama e sobre o sistema de saúde americano para casos "graves"

(Ps: esse post contem palavrão)

Eu já falei que não gosto do sistema de saúde americano. E se você procurar nos blogs dos expatriados, acho que a maioria é categórica em dizer que o negócio é ruim. Porém, nunca tinha visto relato de alguém que tinha um problema de saúde grave, daqueles com risco de morte mesmo. Bom, no ano passado, meu marido foi ao médico com uma queixa e lá foi diagnosticado com outra coisa. Coisa séria mesmo. O quadro dele estava tão grave que por pouco ele não tinha entrado em coma. Bom, ele foi para consulta e saiu com a medicação em mãos, com aulas marcadas para aprender a administrar a doença, com médico marcado etc. Nossa, foi excelente! E no meu caso foi parecido. Eu acho que para coisas mais graves, o sistema é bom.

Eu tinha dito que estava com um probleminha no coração, mas o cardiologista não conseguiu achar nada e me mandou para outro especialista. Fui para o Brasil e deixei para resolver essa questão na volta. A consulta foi no dia 12 de junho e só pra variar, eu estava sozinha. Fui atendida pela enfermeira, um amor de pessoa. Daí ela disse a palavra "cirurgia" e eu pensei "não vou me preocupar porque ela não é médica". A verdade é que eu estava tensa, mas esperançosa e sei que as enfermeiras sabem do que falam. O médico entra, senta virado pra mim e eu já pensei "fudeu! Se os médicos mau olham pra gente, ele sentando assim perto, olhando no meu olho...a coisa é séria!". Não era assim sério que eu iria morrer naquele momento. Aparentemente, meu coração estava batendo devagar, uma arritmia qualquer e eu precisava de um procedimento (agora é fácil diminuir a gravidade). Ele repetiu mil vezes que não era cirurgia, que era algo simples, que medicação não funciona bem etc. Eu parei de prestar atenção e quase chorei, mas pedi para ligar para meu marido.

Mandei uma mensagem para o pager do marido com algo do tipo "terei que fazer cirurgia, liga agora", pra ele não ter dúvida de que a coisa estava tensa. Marido estava finalizando um evento em outro departamento, mas conseguiu me ligar. Ele atravessou o hospital ao meu encontro e esperamos o médico voltar para explicar tudo para meu marido. Mas pra mim essa foi a pior parte, porque né, meu marido começou a perguntar das chances de eu ter um derrame (e eu pensei, nossa, nem sabia que poderia acontecer isso), um monte de estatística e dúvidas médicas. Aí sim eu fiquei nervosa. Na minha cabeça só vinha "puta que pariu! E se eu morrer sem conhecer Paris?". Assim, eu não gosto de saber os riscos, se tenho que fazer mesmo, só quero saber o que eu preciso fazer para que obtenha os melhores resultados. Ficar entrando nos detalhes negativos aumenta muito minha ansiedade. Marido iria para Austrália em 2 dias e resolveu cancelar a viagem. Eu disse que não, que estava bem. Mas aí, quando ele me deixou no carro, eu chorei, chorei...aqueles 10 minutos de desespero que são necessários para eu me reestruturar.

Sorte minha que Luffy tinha chegado na noite anterior, pois ficamos os dois aqui enquanto marido estava na Austrália. Depois do susto, passei uns dias até decidir mesmo se faria o tal procedimento (ablação) e resolvi colocar no youtube para ouvir a experiência de outras pessoas. Ô arrependimento!

O médico não queria fazer logo, mas marido queria que eu fizesse em junho porque o fellow estaria se formando, se eu fosse fazer em julho, iria pegar alguém sem experiência. Resultado, marido marcou a data e quem fez foi o próprio médico, já que era a última semana de aula e os fellows estavam de mudança e não mais no hospital. Eu claro, nem tinha pensado nisso. Como era São João, meus pais estavam viajando e  eu resolvi não falar nada pra não estragar os festejos. Falei com algumas amigas e só. Não gosto de ficar pensando muito nessas coisas. Deixo a ansiedade para a hora mesmo.

A grosso modo, meu coração estava batendo devagar e com um batimento extra. Se o normal é TUM-TUM o meu estava tum-tum-TUM. Os exames mostraram que fora isso, meu coração estava bem saudável, só havia um batimento extra e era do lado direito, portanto o médico iria usar a veia para o procedimento e não a artéria. O que diminui as chances de coisas ruins. Esse procedimento consta em colocar uns fios pelo vaso da virilha, chegar até o coração e queimar as células doidas que estavam fazendo meu coração bater errado e devagar (tipo uma cauterização). A UAB mandou todo material explicando o procedimento, bem como a medicação que precisaria tomar antes (pense numa coisa amarguenta e ruim), pelo correio. Eu poderia ligar ou mandar email para o médico se quisesse tirar alguma dúvida. Chegamos no hospital com minha sacolinha pronta para passar a noite lá, caso fosse necessário.

Me senti uma estrela porque nunca antes nessa minha vida tinha visto tanta gente tomando conta de mim. O anestesista veio trocar uma palavra, depois veio uma enfermeira, depois um enfermeiro veio colocar um acesso, mas chegou um professor com uma aluna de enfermagem de último ano e duas do começo do curso. Daí eles pediram a minha autorização para que a estudante tirasse meu sangue. A UAB é um hospital universitário e esse é o único jeito de se aprender. Eu concordei, mas disse que ela teria uma única chance. Ela conseguiu. Nesse tempo, chegou a enfermeira do médico que fez o procedimento junto com ele. Eram 9 pessoas no quarto! Saiu todo mundo, meu marido entrou e logo em seguida fui para a sala do procedimento com outros 2 enfermeiros. Eu gostei de todo mundo. A equipe era bem brincalhona e engraçada. Cheguei na sala do procedimento. Tinham 5 pessoas lá e o médico ainda iria chegar. Pedi uma coberta, eles colocaram uma aquecida. Aí me ligaram a trezentos fios e começaram a anestesia. Nossa, uma sensação deliciosa! Apaguei. No final, lembro de ter chorado e alguém me perguntar o motivo de estar chorando e eu pensando "nossa! Eu estou chorando porquê?" (depois o médico disse que é comum por conta da anestesia, mulheres jovens chorar). Quando acordei, meu marido foi me dar um beijo rápido e voltou ao trabalho. Eu teria que ficar com a perna esticadinha por 6 horas. Nessa altura, estava alucinada de fome. Já tinha quase 20 horas em jejum! Eles me deram um refrigerante e um sanduiche (leia pão gelado, maionese, queijo e presunto) que eu comi afoitamente. Fiquei esperando meu marido acabar de trabalhar e ir lá ficar comigo. Quando ele chegou, o médico veio conversar e falar sobre o procedimento. Graças a Deus, recebi alta no mesmo dia. A recuperação é tranquila, com algumas dores na perna e o coração demorou muitos dias para se recuperar, mas ó, estive no cardiologista esses dias e ele me deu alta da cardiologia. Fiquei muito feliz e vamos comemorar em Paris, porque né, eu que não vou esperar outro susto desses para conhecer a cidade.

PS: encontrei esse post na pasta do rascunho. É tão bom estar aqui em na Europa e saber que esse problema está no passado.

17 comentários:

  1. Que bom que correu tudo bem na cirurgia e agora voce ta comemorando daquele jeitinho esperado e tao merecido, aproveite a Europa =)
    Beijinhos

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    1. Obrigada...pode deixar que estamos aproveitando bastante. Celebrar a vida é sempre bom :)

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  2. Hora de desfrutar Paris e deixar tudo isso pra trás. Ok, realmente é fácil falar depois que o susto passou e está tudo resolvido. Bjks.

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    1. Mas agora que é a hora boa de falar de Paris. Meu coração está consertado, agora é só curtir mesmo.

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  3. Que bom que tudo deu certo, que seu coração entrou no saudável ritmo do TUM-TUM e que você está em Paris! Muita saúde pra vocês! Bj

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  4. Nossa! Mas que bom que deu tudo certo. Como você ficou sabendo desse problema cardíaco? Ele apresenta sintomas?
    Luana.

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    1. Sim, eu ficava tonta. Mas era numa gravidade enorme que eu literalmente tinha que fechar os olhos e sentar no chão. Não importava se estava em casa, se estava no shopping, saia me agarrando as coisas. Um horror! Daí, dirigir virou um problema. Durava alguns segundo, mas literalmente ficava tudo preto. Como essas tonturas vinham em torno de 20 vezes ao dia, estava atrapalhando muito. Só quando chegou nesse nível, eu falei com meu marido. Ele fez um exame clínico e não achou nada neurológico. Aí me obrigou a marcar um clínico para investigar. O clínico não conseguia explicar meu sintomas e resolver fazer um eletrocardiograma, onde apareceu a arritmia. Parece que um coracao normal bate entre 60 e 100 (sem atividade física), o meu estava em 38. Mas agora está ótimo!!!

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  5. Ainda bem. Que assim continue.

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  6. Sucesso e muita saúde pra vcs dois! Amo o blog!
    Deus abençoe.

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  7. Ohhhh como é bom falar sobre essas coisas no passado! Feliz por vc!
    E por estar em Paris também.
    Depois vai contar, né?
    Bjs!

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  8. Realmente casos do coraçao, nao se brinca. Mamae tem sopro no coraçao, e triste o negocio. E Aproveitem a elegancia toda de Paris

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  9. Ai Lo! Que bom que já acabou, agora é só felicidade! Bjs

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  10. A Europa tem vantagens únicas no mundo, que muitas vezes não valorizamos!

    xoxo

    http://estilohedonico.blogspot.pt/

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  11. Lorna, eu to no trabalho, aih na hora q leio sobre teu choro, tento conter minha risada, mas n consigo! KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
    To feliz q tudo passou, q vc esta na Europa e por vc ser linda e abencoada!

    Beijo grande,

    Rebeca

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    1. Você não sabe o quanto esse comentário me fez feliz. :)

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  12. Lorna que bom que isso fico no passado e vc tá bem e já foi em Paris :)... quando fui ter baby eu tb chorava e gritava com meu marido dizendo que nunca mais ia ter outro, ele perguntava se tava com dor e eu dizia n ai ele perguntava e tá chorando porque e eu respondi n sei e gritava de novo kkkkkkkk

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