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24/08/2013

um pouquinho da crise da falta de médico nos EUA

O Marcos sugeriu que eu comentasse essa materia. Achei interessante e resolvi trazer a discussao principalmente pela possibilidade de comparacao que o momento da medicina no Brasil possibilita.

Bom, o artigo basicamente aponta as dificuldades que os medicos estrangeiros enfrentam para “validar” o diploma aqui nos EUA. O problema eh que com a nova lei da saude americana, o pais que jah contava com a falta de medicos, vai precisar urgentemente desses profissionais (e de outros profissionais da saude, especialmente enfermeiros). O artigo discute que muitos medicos chegam nos EUA jah treinados e que precisam passar por mais treinamento (pelo menos 4 anos sem contar com as provas, entrevistas etc que antecedem o treinamento em si). A autora usa o Canada como exemplo dizendo que lah os medicos que se formaram em outros paises de lingua inglesa (EUA, Irlanda, Inglaterra e Australia) e que queiram ser clinicos (a base da medicina no Canada), nao precisam passar por mais treinamento.

O problema no artigo eh que a autora descreve o processo para a entrada na residencia como sendo algo quase impossivel e esquece de salientar que o processo eh exatamente igual para os medicos formados nos EUA. Nao ha injustica no processo, ele eh ruim para todos os candidatos independente do lugar que ele se formou. O estrangeiro precisa sim de experiencia aqui nos EUA, coisa que quem jah estuda aqui nao precisa. E claro, se formando no pais, o candidato acaba conhecendo mais as provas dos steps, estudando mais focado, essas coisas. Mas existem cursos focando os testes e livros.

A autora levanta a questao de que mesmo os medicos formados em locais “com sistema avancado de medicina” como Japao e Inglaterra, precisam refazer a residencia aqui. Nao posso falar do Japao, mas a medicina na Inglaterra eh bem diferente daqui. Talvez fosse o caso de diminuir o tempo de residencia de medicos formados nesses lugares, mas eu duvido muito que os EUA resolva validar automaticamente os diplomas dos medicos. Infelizmente a autora só entrevistou médicos vindo de países em desenvolvimento, não nos deu a oportunidade de saber o que os médicos treinados em paises "desenvolvidos" acham do sistema aqui.

No artigo ha relatos de medicos que mudaram pra ca e nao conseguiram validar o diploma ou descreve a trajetoria longa dos que conseguiram. Parafraseando o Renato, eu acho que tudo tem a ver com planejamento. Tem gente que espera se formar para tentar vir para ca. Nesse caso, o tempo para conseguir a vaga sera maior por conta do processo. Tem gente que na epoca da faculdade vem, consegue as cartas de recomendacao, comeca os steps antes de se formar e pronto. Cada pessoa vai tracar um caminho diferente.

Os orgaos relacionados a medicina americana dizem que diminuir o tempo de residencia para medicos estrangeiros podera impactar na qualidade do sistema americano e que medicos formados em paises pobres, paises que jah sofrem com a escassez de medicos, podem decidir imigrar para os EUA (quem acha que os EUA eh bonzinho assim e se preocupa com os outros levanta a mao? Embora isso seja um problema de fato, eu duvido que o pais pense verdadeiramente nisso). No proprio artigo, um medico daqui deixa claro que isso nao eh mesmo problema dos EUA. Ele diz que as pessoas devem escolher onde morar.

O artigo mostra tambem que menos de 50% dos candidatos estrangeiros conseguem uma vaga na residencia. Enquanto que 94% dos americanos conseguem. Na propria materia ha uma explicacao para o fato. Um medico estrangeiro diz que tirou notas baixas nos steps e nao consegue a vaga da residencia por isso. Pessoal, infelizmente aqui nos EUA a nota das provas, em qualquer area, eh extremamente importante. Aqui na regiao tem uma escola internacional (publica) e uma outra escola publica “normal”. A escola internacional eh bem dificil, tem prova de admissao, ela da o conteudo da high school em 2 anos e os outros 2 anos sao voltados para projetos internacionais, linguas, enfim, muita coisa diferente. A chance de uma pessoa tirar A na escola internacional eh menor que na escola publica normal. Mesmo assim, os alunos que so tiram A na escola publica normal conseguem mais bolsas de estudo e vagas em universidades que os alunos da escola internacional. Eu nao estou inventando. Eu vi e vejo isso aqui. Nota da prova, esses negocios de GPA eh muitissimo importante e pesa muito. Entao, se nao tiver preparado para a prova, se tirar nota baixa, vai ser dificil mesmo. Outra coisa, tem muita gente que aplica sem ter experiencia aqui. Jah digo logo que nao sera aceito. Quanto a diferenca de porcentagens na taxa de aceitacao, eu entendo os hospitais, eh muito mais seguro (do “verbo” menos chance da pessoa desistir) voce dar a vaga para alguem que jah conhece o sistema do que alguem que chegou faz pouco tempo.

Dai o artigo encerra falando de um problema serio: as vagas de residencia permanecem constante enquanto que as as vagas nas faculdades e estudantes de medicina daqui estao aumentando. Ou seja, “poucas vagas para os medicos estrangeiros”. Ai sim, isso vai ser problema porque eles estao precisando de medicos, mas nao estao aumentando as vagas. 

As sugestoes da autora para melhorar a situacao sao: acordos com outros paises, aceleracao da residencia ou reconhecimento dos estudos.

Mas sabe, o que eu acho complicado mesmo eh que o pais esta precisando de medico, treina os residentes (gasta dinheiro!) e depois dificulta muito a estadia dos mesmos no pais. Em teoria o medico tem de retornar ao pais de origem por pelo menos 2 anos, caso deseje ficar precisa trabalhar 2 anos em uma area que tenha escassez de medico ou no VA (aqui por 3 anos). O visto muda para o H e o/a companheiro/a nao pode mais trabalhar. O que acontece? Muito medico vai para o Canada (porque o processo de cidadania eh mais facil e todo mundo pode trabalhar alegremente enquanto espera o processo) ou volta para o pais de origem. Isso sim me parece estupido.


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11 comentários:

  1. Os EUA sao um saco para revalidar diplomas na maioria das areas. Em parte eu concordo com eles, porque eles tem milhoes de estudantes saindo das universidades e essa gente precisa trabalhar, entao ate ai tudo bem em dificultar um pouco para quem vem de fora mas essa palhacada dos vistos e regulacoes que eles tem eu concordo com voce que e estupido demais. Por outro lado vejo gente "querendo" vir parar aqui pra estudar mas nao se informa e nem faz um planejamento resultando em mais dificuldades por falta de orientacao ai depois quer sair por ai e falar mal como se tudo conspirasse contra eles.
    Beijinhos

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  2. O processo é difícil mesmo. Muito. Mas tem que ser. Imagina se fosse fácil? Que médico ia querer ficar no Brasil (ou em seu país de origem), exercendo uma Medicina meia-boca, com hospitais de péssimo infra-estrutura e salários que não pagam a escola de seus filhos? Com o tratamentoo VIP que vêm recebendo do seu governo? Tem que ser difícil sim. Eu estou no processo de revalidação e seria beneficiada se fosse mais fácil. Mas tenho que usar a razão.
    Como os EUA vão assinar embaixo de um treinamento ( residência) de médicos formados e teinados no exterior - Brasil inclusive? Como avlaliar? Sabendo do caos que existe na saúde desses países? Das condições de trabalho? Da falta de estrutura? Acho que é uma proteção ao paciente.
    Agora, também não precisava dificultar. O ponto de corte dos steps subiu duas vezes nos últimos 4
    anos. O CS ( uma das etapas) está cada vez mais difícil.... O que era difícil, está ficando quase impossível. Mas, se tem gente que consegue, eu também consigo.
    Beijos

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    1. Você é danada, então vai com fé!

      Eu nem sabia que tinha um ponto de corte nos steps até uns meses atrás que uma pessoa perguntou. Isso porque quando marido esteve nos EUA estudando, falaram para ele que para ser competitivo ele teria que fazer acima do percentil 90 e esse foi oobjetivo dele. Ah,lembra de comprar o banco de questões para te auxiliar nos estudos. Ajudou muito o Leo quando ele estava estudando.

      Cris, no artigo eles falam para validar automaticamente ou diminuir o tempo de residência dos médicos em países com a medicina de ponta, o Brasil não seria incluído. Quando ao momento do Brasil, você não imagina o número de emails que ando recebendo nos últimos meses de médicos pensando em vir pra cá por conta da situação da profissão no Brasil :(

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    2. Lorna ,estou inscrita estudando para o step 1. Comprei as apostilas usadas e estou estudando aqui no Brasil para fazer a prova. Como compro o banco de questões?
      Obrigada!

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    3. Cris, meu marido comprou no usmle world (o link para o step 1 é esse http://www.usmleworld.com/Step1/step1_qbank.aspx). Tem o do Kaplan também (http://www.kaptest.com/Medical-Licensing/Step1/s1-qbank.html). Meu marido disse que escolheu o do usmle porque na época, os americanos que ele conheceu no intercâmbio falaram que era melhor.

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  3. Obrigado Lorna pela atençao!!!

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  4. Oi Lorna! Frente à situação do Brasil na última semana na área médica, agora tenho a certeza de que farei os steps e tudo que for necessário para conseguir ir para os EUA. Sei que o processo não é fácil, mas já estou correndo atrás do que preciso. Daqui 1 ano exato estarei em algum lugar dos EUA pelo Ciência sem Fronteiras. Com isso, vou pegar matérias na universidade pra me preparar pro step 1! Acho ótimo quando você coloca esse tipo de post! Muito bom!
    E lá vou eu me aventurar nos steps, correr atrás de clerkship, mas vai valer a pena lá na frente!

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    1. GOSTARIA DE SABER

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    2. Que bom que você terá tempo de planejar as coisas. Bom quanto ao CSF, eu ouvi dizer que para estudante de medicina é ruim, pois como medicina aqui é pós-graduação, eles não deixam o estudante do Brasil participar. Tem um estudante de medicina que veio pelo programa e ficou um tempo sem assistir aula, depois conheceu uma brasileira enfermeira que o ajudou com aulas em enfermagem. Mas isso não vai ser bom para as cartas de recomendação. Talvez seja mais fácil conseguir algum tipo de pesquisa, eu não sei...falo isso só para você pensar e se adiantar no planejamento.

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  5. Adorei esse texto.
    O que eu não entendo é as pessoas perguntarem pra mim no meu blog "Se eu fizer faculdade nos EUA, como é que eu valido ele aqui no Brasil?" Bom, se você quer ficar no Brasil, faça faculdade no Brasil!
    É lógico que não se pode esperar que um profissional estrangeiro vá saber todas as especifidades da sociedade americana. POrtanto, eu acho que treinamento precisa mesmo. E quanto às % diferentes entre americanos e estrangeiros, perfeitamente normal. Anormal seria o país dar prioridade a estrangeiros deixando os próprios cidadãos de lado (coisa que acontece no Brasil)
    Bjs

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    1. Eu ri com sua resposta! Mas se a pessoa for como eu, pensará em todas as possibilidades. Porque meu visto é vinculado com o do Leo e eu penso, e se o casamento terminar? E se ele morrer? E se algo acontece com nossos familiares no Brasil e a gente resolve voltar? Problema de tentar controlar tudo que é típico de gente ansiosa kuen pra mim :(

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