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02/06/2013

4 médicos na família e a questão dos médicos cubanos



Hoje oficialmente tenho 4 médicos na família. 2 "meninos" e 2 meninas. 2 são Bittencourt e 2 são Almeida. Os 2 meninos foram colegas de turma em "1900 e bolinha" e as 2 meninas também. Hoje (no caso, sexta), tenho o dia de comemoração para fechar com chave de ouro os primeiros 6 anos de estudo em medicina das meninas e para abrir com muitas boas energias os milhares de anos de trabalho que elas terão. Vocês sabem que eu convivo com um médico e sei bem que esse glamour todo ligado à profissão é uma falácia, especialmente para os pobres coitados dos familiares, mas ouvir um causo do seu marido super empolgado de um diagnostico de um paciente e na consulta de retorno o pacientinho estava melhor e agradeceu ao doutor, não tem preço (ahahahhaa, tem preço sim e eu pago a conta viajando sozinha, acordando várias vezes no meio da noite com o pager gritando, dormindo sozinha...). Só desejo melhores condições de trabalho para a classe, porque o sistema tá bruto.


Falando nisso, antes da minha viagem, o tema sobre os médicos cubanos já estava sendo discutido por aqui. Uma amiga postou essa matérias e vi muita gente apoiando a vinda dos médicos. Achei a matéria muito limitada justamente porque só foca em um lado da moeda e resolvi escrever sobre o outro lado. Não que não concorde com os pontos que ela traz. Por exemplo, eu acredito que alunos das universidades públicas deveriam retribuir os anos de aprendizagem pagos pelo país. Não só para o curso de medicina e não só durante a faculdade. E sim, eu sou formada pela Federal da Bahia. Quanto a concentração de profissionais  no Sul-Sudeste-grandes cidades. Por que será? Por que os médicos estão recusando salários nos interiores de até R$30.000,00? Meu primo me disse isso "Não há plano de carreira para médico, assim, eles querem que eu deixe minha vida aqui para mudar para uma cidade pequena sem garantia nenhuma de que quando o prefeito mudar meu emprego continue".

Nesse texto, eles falam que a medicina em Cuba é reconhecidamente excelente e eu não poderia discordar disso, no entanto, é bem diferente do que praticamos aqui. Não que isso seja ruim, mas também pode não ser bom. Por exemplo, a medicina nos EUA é excelente certo? No entanto ela é curativa e por isso diferente da brasileira (que no meu entender tenta equilibrar a medicina curativa e a preventiva). Já em Cuba a medicina seria mais preventiva. Isso nada tem de errado, mas está ligada a cultura/movimento/desenvolvimento dos países. O que eu acho errado é você afirmar que a medicina de tal lugar é boa e achar que importar os médicos que seguem aquele modelo será a salvação do seu país. Tenta trazer os médicos americanos pra cá, pra você vê o que aconteceria. Medicina não é igual no mundo, o olhar do médico é diferente e os tratamentos e protocolos também "vareiam"dependendo dos tratamentos disponíveis e da forma que a medicina se desenvolveu no país. Nada que uma validação do curso, com um internato prático não resolvesse, né isso que meu marido faz nos EUA?

Algumas pessoas falaram que seria melhor para o pobrinho do interior mais longínquo ter um médico qualquer (mesmo sem validação de diploma) do que não ter nenhum. Sim, esse pensamento me emputece. Por que cargas d'água a gente acha que o pobre merece qualquer migalha? Tipo, é pobre mesmo, qualquer coisa é qualquer coisa. Nossa que isso mexe com meus demônios. Por outro lado, ofertar saúde para a população e não cumprir é fogo. E aí, o que fazer? Eu também não entendi exatamente porque os médicos viriam especificaente de Cuba e não de outros países. Outra questão a se pensar é quem garante que os médicos cubanos ficariam nos interiores (e não diga que a garantia seria um contrato, porque eu não sou boba)? Digo isso porque se os médicos brasileiros se recusam a ficar nessas cidades mesmo ganhando bem, porque a gente tem certeza que os cubanos ficariam fixados de fato lá?

Eu, do alto de toda minha leiguisse (leiguice?), acho que a solução para o problema está bem aqui no Brasil. Acho que no lugar de trazer médicos, deveríamos modificar o sistema aqui, dar garantia aos nossos médicos brasileiros. Tem como implementar plano de carreira para médico? Tem. Tem como abrir concurso? Tem. Tem como melhorar as condições de trabalho fornecendo condições mínimas (Como disse meu marido depois do primeiro plantão como médico da vida dele "o que adianta eu estar aqui trabalhando se o paciente chega e eu não tenho nem termômetro para medir a temperatura dele?")? Tem sim senhor. Meu primo me disse algo do tipo "Ló, você acha que depois de 1 ano de cursinho, 7 anos de medicina (desses, 1 ano foi de greve), 1 ano de aeronáutica (o médico é obrigado a servir depois de formado) e 5 anos de residência, eu não gostaria de trabalhar em um interior desses ganhando 30 mil reais por mês? Claro que gostaria, mas o sistema dificulta e não e garante nada".

Abaixo, deixo a foto do (des)conforto médico de um grande hospital público da Bahia. Um local que deveria possibilitar que o médico tirasse um cochilo durante as 24 horas de trabalho. Isso é condição e respeito por algum profissional? Eu imagino que se normalmente a classe médica recebe a melhor e maior atenção como é que os outros profissionais de saúde são tratados? E os pacientes?

Imagem tirada do FB

7 comentários:

  1. Adorei o texto, acho muito verdade. Não sou médica, mas acho que a profissão, assim como muitas outras no Brasil, tem que ser mais respeitada. Médico não é deus, e precisa de condições mínimas de trabalho...

    Beijos

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  2. Eu tenho acompanhado as noticias relacionadas com isso pela internet e sabe que concordo com tudo que voce disse, a solucao nao e trazer medicos de Cuba mas sim melhorar o sistema do Brasil, eu acho que trazer esses medicos nao vai garantir nada que eles vao ficar por la acho que nao vai demorar muito em vermos uma migracao massiva (ou tentativa) para grandes centros urbanos e quando esse contrato terminar as probabilidades dessa gente voltar pra Cuba vai ser minima e em vez do pais investir em sua propria educacao e formar seus profissionais comeca a importar de outros lugares e daqui uns anos se cria outros tipos de problemas. Mas infelizmente parece que esse governo gosta da politica da "esmola" pra ter certeza que nas proximas eleicoes vao ganhar..situacao triste essa.
    Beijinhos

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    1. É isso mesmo. O piro é saber que aqui tem muito médico que iria trabalhar no interior facilmente, se tivesse condições para isso.

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  3. Lorna, adorei seu texto e você pontuou coisas muito importantes!
    Eu, como estudante de medicina, vejo cada dia mais colegas recém formados que tem a boa vontade de ir trabalhar nesses interiores afora por conta dos salários altos. Chegam lá, recebem em dia no primeiro mês e exercem a profissão como se fossem mágicos: falta fio de sutura pra pequenas emergências, faltam medicamentos básicos de urgência em unidades de saúde. Depois do primeiro mês, começa a ladainha: o pagamento começa a atrasar, um mês vai emendando no outro e quando você vê já se passaram 4 meses e está sem receber a pelo menos 2 meses. Ninguém trabalha de graça, sem estabilidade. Eu mesmo não me importaria nem um pouco de ir trabalhar no interior se houvessem as condições mínimas necessárias.
    É aquele velho bordão que se tornou famoso nessas últimas semanas: vamos acabar com a fome importando cozinheiras francesas. Mas e a comida?
    Acho muito chato um país tão reconhecido por economia estável e bla bla bla não ter a mínima noção de administração/gestão de saúde pública. E assim vamos caminhando, tapando o sol com a peneira! Haja peneira!

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  4. Bom, eu nao sou medica, mas trabalho no meio - sou física medica...
    Eu acho que a solucao esta dentro do pais também, não fora... Pra que importar médicos quando se formam tantos no pais?
    Faca um plano de carreira... Arrume as condições de trabalho... Aposto que nao precisaremos mandar buscar gente de fora...
    E pobre nao merece menos porque eh pobre.. merece o mesmo!

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