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28/06/2013

Curtas

Aí você sai para andar com seu cachorro e seu marido e se depara com um vizinho chegando em casa, de cueca samba canção, com a  calça jeans na mão e falando ao celular como se aquilo ali fosse a coisa mais comum do mundo. O melhor: eu e marido levantando os motivos do vizinho estar com as calças na mão.

Tem sido muito engraçado acompanhar as aventuras de uma família de brasileiros recém-chegados em B'ham. Conhecemos eles através do blog e tenho dado altas risadas com os causos semelhantes aos nossos que eles têm passado. Tipo aquilo que aqui pen é pin, ou a lentidão dos serviços e ainda a mania esquisita de trocar os nomes das pessoas por algo que não tem nenhuma semelhança.

E hoje, oficialmente, começamos a nos despedir de B'ham: último dia de PGY3 do marido (segunda começa o último ano  da residência!), último dia que ele atende no hospital "público" daqui e seria a última vez que iríamos no departamento de trânsito para renovar pela última vez a carteira de motorista, mas claro que deu um problema e teremos que voltar depois. Se fosse de primeira não seria B'ham, né mesmo?

Continuamos pensando sobre nossa próxima parada, até setembro, espero que tenhamos chegado a uma boa escolha. Por enquanto, já comecei a me preparar para a mudança de clima da nossa próxima parada: muito frio ou muito quente.

22/06/2013

3 anos de EUA e da saudade que vou sentir de Birmingham.



Esses dias, estávamos a caminho do hospital e marido diz com ar saudoso “daqui um ano e pouco, nossa paisagem vai ser outra”. Senti um frio na barriga, um frio bom. Mas não é verdade? Em julho de 2014, estaremos nos situando no nosso novo espaço. Marido estará preocupado com a prova de título. Vamos comprar móveis, renovar os sonhos. Coisa boa!

Fiz 3 anos nos EUA e comemorei no Brasil. Nossa, pensando na mudança, comecei a sentir saudade de Birmingham, vocês sabem, eu reclamo mas vou sentir falta do..... da.... hum.... vejamos ....zzzzzz. Fora alguns poucos amigos e minha chefe, vou sentir falta de nada desse lugar tenebroso. Minha sorte é que minha memória é péssima e sei que depois de um tempinho, vou esquecer esse período aqui.
Falando nisso, marido já fez algumas entrevistas e já escolheu 2 possíveis lugares (ele cancelou o restante das entrevistas, porque segundo ele “não tem como ser melhor que esses dois programas”).  A responsabilidade de escolher o lugar é minha, assim ele disse. E nossa, que difícil!!! Tipo, muito difícil mesmo. Não quero errar. Não posso errar!

Imagem daqui acompanhada de um aposia que descreve bem meu momento
 Um lugar é no norte, cidade grande, com metrô e transporte público, cara e muitíssimo fria! O outro lugar é no sudeste, “perto” da praia, mais quentinho, mas muito pequeno.

Em um dos lugares, precisaremos fazer muitas contas e rebolar para esticar o dinheiro. No outro lugar, vai sobrar um pouquinho para fazer viagens.

NENHUM DOS DOIS TEM PLANTÃO NOTURNO E FINAL DE SEMANA É DIA DE FOLGA!

Em um dos lugares, marido sai com mestrado em pesquisa clínica, mas ele trabalhará sozinho (sem nenhum colega, todos os dias, por 2 anos). No outro lugar, todos os dados dos pacientes fica em um banco de dados infinito para pesquisa e eles preparam os fellows para coordenar centros quando se formarem (o pessoal se forma e vira diretor de centro, massa né?).

Em um dos lugares, o tom é mais formal. No outro lugar a galera é mais “ninhuma”.
Ambos os locais são reconhecidos como centros de excelência.

Em um lugar, marido já tem um médico conhecido para acompanhá-lo (para quem tem doença autoimune, isso é bem importante e dá tranquilidade), em outro lugar não.

Em um lugar eu poderia comprar uma casinha (não que vá comprar, porque vamos ficar só 2 anos) ou alugar uma casa grande com um quintal ótimo, no outro lugar vai ser difícil achar algo com máquina de lavar dentro. 

Em um lugar posso visitar meus primos no Canadá de carro, no outro lugar tem promoção para tudo que é canto e fica perto de Salvador.

Marido disse que ficará contente em qualquer um dos lugares. Eu não sei o que quero, estou tentada a escolher a cidade menor pela possibilidade das viagens e de outras coisitas, mas tenho receio de perder a oportunidade de morar na cidade grande. Além do que, estou bem empolgada para ter a experiência de viver 5 meses com neve. Só serão 2 anos e eu tenho até setembro para escolher junto com o Dr meu marido em que buraco iremos nos enfiar. Escolher é meio ruim porque o impacto dessa escolha será vivido por muito mais que 2 anos, no entanto, estou amando saber que ano que vem, nessa época, estaremos arrumando as malas e sonhando com tudo de melhor.(Acredite que eu já tenho a pose da minha última foto por aqui)

Ps: talvez eu sinta saudade daqui sim, se for para um lugar muito frio, se for para um lugar muito quente, se estiver parada no meio de um engarrafamento, se tiver que limpar neve, se minha casa for minúscula etc. Só mudando para saber, talvez eupasse a gostar mais e valorizar B’ham depois da mudaça.

15/06/2013

Quando o amor de duas pessoas não cabe dentro delas....




Elas fazem um montão de coisas. A gente resolveu adotar. Adotar um pet. Bem verdade que eu já queria isso faz tempo, depois eu desisti da ideia e marido queria. Enfim, antes da busca, levantamos como esse novo membro da família deveria ser para “caber” aqui em casa e no nosso estilo de vida. Daí, a lista foi a seguinte: macho (meu marido queria macho porque já tinha escolhido um nome), pequeno, com pelo curto (minha casa tem carpete), adulto (treinar um filhote é complicado, principalmente com a casa de carpete) e “sem raça definida” porque marido queria assim (eu  amo poodles e ficaria feliz com um). Ficamos pesquisando pela internet, até que a PetSmart fez um evento de adoção. Fomos lá e marido se encantou com um cachorro. Ele era muito fofo, mas era maior do que planejávamos. Não teve jeito, marido se apaixonou por ele. Levamos a criatura para um passeio e deu para notar o quão forte ele era.  Aplicamos para ficar com o cachorro. Daí, quando a aplicação é aceita, você fica alguns dias com o bichinho, numa espécie de test drive.
Saímos para comprar todos os apetrechos para ele. Pesquisamos para comprar a melhor ração e vimos que uma boa ração não tem grãos (o animal não consegue digerir e só serve para “encher” a ração)  e tem que ter como primeiro ingrediente a proteína (por exemplo, não pode ser chicken meal, tem que ser chicken mesmo).

Como estávamos viajando na época, o cachorro continuou na casa da Foster mom por alguns dias. Quando ele chegou, eu já estava no Brasil e o acompanhei via skype e por fotos diárias. Para encurtar a história, não deu certo. Marido estava muito apegado, mas teve muita alergia e o cachorro precisava de mais espaço e mais atenção. Chegou ao ponto da criatura, no desespero, machucar o focinho (sangrou e tudo). Então, ligamos para a foster mom e ela veio buscar. Foi triste, mas foi o jeito. Eu estava pensando em adotar um gato, mas não gosto muito de gatos como vocês podem notar na foto abaixo tirada recentemente na minha visita ao Brasil.





















(O gato mais maluco e mais amável desse mundo: Jorge Bush. O nome foi porque o encontramos em uma noite de lua cheia- também era uma sexta-feira 13 em agosto, mas optamos por focar só na lua cheia mesmo- e eu amo a música "Lua de São Jorge". Já o sobrenome veio mais tarde, devido ao poder de destruição em massa que essa cara fofa faz e por isso a semelhança com o ex-presidente americano)

Marido não desistiu e arrumou outra criatura. Desta vez um cachorrinho menor. Mas olha, pense numa criatura feinha: cada orelha tem uma altura diferente, a mandíbula é curta, tem lordose, escoliose...bom, é feio! Mas pense num cachorro fofo e sabido? Estamos na fase do test drive. Estamos do “verbo” eu e o cachorro, porque marido está na Austrália. Ele (o cãozinho) é super fofo, carinhoso e dorminhoco e está aqui deitado no sofá enquanto eu, com dó de acordá-lo, estou bem quintinha. Hum, desconfio que a casa tem um novo dono.

02/06/2013

4 médicos na família e a questão dos médicos cubanos



Hoje oficialmente tenho 4 médicos na família. 2 "meninos" e 2 meninas. 2 são Bittencourt e 2 são Almeida. Os 2 meninos foram colegas de turma em "1900 e bolinha" e as 2 meninas também. Hoje (no caso, sexta), tenho o dia de comemoração para fechar com chave de ouro os primeiros 6 anos de estudo em medicina das meninas e para abrir com muitas boas energias os milhares de anos de trabalho que elas terão. Vocês sabem que eu convivo com um médico e sei bem que esse glamour todo ligado à profissão é uma falácia, especialmente para os pobres coitados dos familiares, mas ouvir um causo do seu marido super empolgado de um diagnostico de um paciente e na consulta de retorno o pacientinho estava melhor e agradeceu ao doutor, não tem preço (ahahahhaa, tem preço sim e eu pago a conta viajando sozinha, acordando várias vezes no meio da noite com o pager gritando, dormindo sozinha...). Só desejo melhores condições de trabalho para a classe, porque o sistema tá bruto.


Falando nisso, antes da minha viagem, o tema sobre os médicos cubanos já estava sendo discutido por aqui. Uma amiga postou essa matérias e vi muita gente apoiando a vinda dos médicos. Achei a matéria muito limitada justamente porque só foca em um lado da moeda e resolvi escrever sobre o outro lado. Não que não concorde com os pontos que ela traz. Por exemplo, eu acredito que alunos das universidades públicas deveriam retribuir os anos de aprendizagem pagos pelo país. Não só para o curso de medicina e não só durante a faculdade. E sim, eu sou formada pela Federal da Bahia. Quanto a concentração de profissionais  no Sul-Sudeste-grandes cidades. Por que será? Por que os médicos estão recusando salários nos interiores de até R$30.000,00? Meu primo me disse isso "Não há plano de carreira para médico, assim, eles querem que eu deixe minha vida aqui para mudar para uma cidade pequena sem garantia nenhuma de que quando o prefeito mudar meu emprego continue".

Nesse texto, eles falam que a medicina em Cuba é reconhecidamente excelente e eu não poderia discordar disso, no entanto, é bem diferente do que praticamos aqui. Não que isso seja ruim, mas também pode não ser bom. Por exemplo, a medicina nos EUA é excelente certo? No entanto ela é curativa e por isso diferente da brasileira (que no meu entender tenta equilibrar a medicina curativa e a preventiva). Já em Cuba a medicina seria mais preventiva. Isso nada tem de errado, mas está ligada a cultura/movimento/desenvolvimento dos países. O que eu acho errado é você afirmar que a medicina de tal lugar é boa e achar que importar os médicos que seguem aquele modelo será a salvação do seu país. Tenta trazer os médicos americanos pra cá, pra você vê o que aconteceria. Medicina não é igual no mundo, o olhar do médico é diferente e os tratamentos e protocolos também "vareiam"dependendo dos tratamentos disponíveis e da forma que a medicina se desenvolveu no país. Nada que uma validação do curso, com um internato prático não resolvesse, né isso que meu marido faz nos EUA?

Algumas pessoas falaram que seria melhor para o pobrinho do interior mais longínquo ter um médico qualquer (mesmo sem validação de diploma) do que não ter nenhum. Sim, esse pensamento me emputece. Por que cargas d'água a gente acha que o pobre merece qualquer migalha? Tipo, é pobre mesmo, qualquer coisa é qualquer coisa. Nossa que isso mexe com meus demônios. Por outro lado, ofertar saúde para a população e não cumprir é fogo. E aí, o que fazer? Eu também não entendi exatamente porque os médicos viriam especificaente de Cuba e não de outros países. Outra questão a se pensar é quem garante que os médicos cubanos ficariam nos interiores (e não diga que a garantia seria um contrato, porque eu não sou boba)? Digo isso porque se os médicos brasileiros se recusam a ficar nessas cidades mesmo ganhando bem, porque a gente tem certeza que os cubanos ficariam fixados de fato lá?

Eu, do alto de toda minha leiguisse (leiguice?), acho que a solução para o problema está bem aqui no Brasil. Acho que no lugar de trazer médicos, deveríamos modificar o sistema aqui, dar garantia aos nossos médicos brasileiros. Tem como implementar plano de carreira para médico? Tem. Tem como abrir concurso? Tem. Tem como melhorar as condições de trabalho fornecendo condições mínimas (Como disse meu marido depois do primeiro plantão como médico da vida dele "o que adianta eu estar aqui trabalhando se o paciente chega e eu não tenho nem termômetro para medir a temperatura dele?")? Tem sim senhor. Meu primo me disse algo do tipo "Ló, você acha que depois de 1 ano de cursinho, 7 anos de medicina (desses, 1 ano foi de greve), 1 ano de aeronáutica (o médico é obrigado a servir depois de formado) e 5 anos de residência, eu não gostaria de trabalhar em um interior desses ganhando 30 mil reais por mês? Claro que gostaria, mas o sistema dificulta e não e garante nada".

Abaixo, deixo a foto do (des)conforto médico de um grande hospital público da Bahia. Um local que deveria possibilitar que o médico tirasse um cochilo durante as 24 horas de trabalho. Isso é condição e respeito por algum profissional? Eu imagino que se normalmente a classe médica recebe a melhor e maior atenção como é que os outros profissionais de saúde são tratados? E os pacientes?

Imagem tirada do FB