Esse post foi escrito para mim. Eu preciso lembrar da cidade, das sensações que tive lá. O próximo post (entrará no ar na quinta) será mais turístico, ok? Ah, e já aviso que o post está gigante!
A ida a Montreal foi para eu apresentar dois trabalhos no congresso, mas resolvi ir alguns dias antes para conhecer um pouco da cidade. Bom, se você já leu 3 posts nesse blog já sabe que eu detesto morar aqui em B'ham (e coitado se você já leu mais posts, não aguenta mais meu mimimi). A minha idéia era voltar ao Brasil depois do treinamento do marido, mas marido prefere qualquer coisa a ter de voltar a terrinha (porque a área que ele vai se especializar, ainda não tem no Brasil), então, como meu grau de insatisfação nos EUA é enorme (não só pela cidade, mas por todas as questões burocráticas e culturais) e aparentemente voltar para o Brasil será motivo de briga, a minha idéia é mudarmos para um país neutro, onde nossos diplomas sejam válidos e a qualidade de vida seja boa. Então, os 2 dias de "turista" que eu tive na cidade foram voltados para conhecer o dia a dia do pessoal e não tanto para conhecer a parte turística. A minha expectativa era alta e a vontade de amar a cidade era mais alta ainda (ou seja, minha opinião tem um viés enorme).
Vamos lá, viajei ao lado de uma família de Montreal que estava na Disney. Pense na coisa mais linda que é ver uma menininha falanda francês, contando história, jogando e puxando papo comigo. Fiquei apaixonada! (admito que o sotaque é meio diferente, mas eu achei tão fofo!). Daí, chego na imigração e sobe o frio na barriga porque eu estou mal acostumada com a grosseria da imigração americana, mas para minha surpresa, o policial canadense fala olhando para mim, é super educado, faz as perguntas que tem de fazer e pronto. Já fazia tempo que não me sentia gente na imigração.
Daí eu peguei um táxi para a casa de uma amiga que mora na cidade há 3 anos e foi minha host. Primeiro que o taxista era do Haiti e foi tão educado! Quando cheguei na casa da Marina e entrei no apartamento dela, tudo tão fofinho. Conversamos uns minutos e ela me levou para fazer um programa local. Como estava quente, fomos em um parque, levamos a canga e conversamos mais. Eu fiquei tonta com tanta coisa diferente. Mil pessoas esportivas, correndo, andando de bicicleta. Todo mundo magro (lembre que aqui no Alabama mais de 30% da população é obesa). As pessoas são tão relaxadas. Cada pessoa se veste de maneira diferente, muitas estampas e peças diferentes, tão diferente daqui do Alabama que ninguém usa decote, as coisas são todas padronizadas, tudo irritantemente igual! Vi mulher de cabelo molhado (aqui no Alabama isso é sinônimo de desleixo), gente de todo tipo. Ah, a "bolha" ao redor das pessoas é menor que a americana (mas maior que a baiana). A minha host definiu a cidade com uma palavra "liberdade" e foi assim que eu me senti lá. Vi tanta gente tatuada (acho que nunca vi ninguém com tatuagem aqui), casais homossexuais andando de mãos dadas na boa (como, na minha opinião deve ser), deficiente físico participando de tudo. Eu olhava para tudo e fui me imaginando morando lá.
Para melhorar: o transporte púbico. Eu odeio dirigir, mas aqui ou eu pego o carro ou fico trancada em casa (aqui quase não tem passeio/calçada). Em Montreal, os ônibus passam na hora, o metrô também. Você não precisa ficar congelando no frio ou derretendo no calor (eu peguei 41C de puro derretimento), como já sabe a hora do transporte, sai de casa prevendo o tempo e não precisa aguardar debaixo do sol ou neve. Eu achei engraçado porque a gente estava em um ponto da cidade e resolvia ir para outro ponto, minha host via o horário do ônibus/metrô pelo smartphone (invenção que definitivamente é de Deus) e íamos. Não tinha aquele coisa chata de pegar o carro, sabe. Eu amei bater perna pela cidade. Amei ver gente, interagir com gente (quando se está dentro dos carros, a gente perde isso). O metrô é tranquilo e Marina disse que os novos trens já foram comprados e vão ser instalados brevemente. Comprei meu passe para 3 dias e pude pegar onibus e metrô a vontade. Eu ficava olhando tudo, estava tão feliz, sabe quando você finalmente se sente em casa? Pois é...
Aqui eu não vi ninguém "psicotizando" (falando ao celular com o "bluthu" enfiado no ouvido). As pessoa parecem normais, mas definitivamente são diferentes e ninguém liga. A Marina me contou que houve uma quebra com a religião um tempo atrás, o que não significa que as pessoas não tenham suas crenças (sou eu toda!) e disse que tem tanta lei para proteger a mulher, que se você quiser sair "com os peitos para fora, ninguém vai olhar/notar" (não que tenha gente que faça isso). Engraçado que ela mora em um lugar ótimo, perto do trem e do metrô, da faculdade, na divisão entre a parte francesa e inglesa da cidade. Então na hora de dormir, ela disse que fazia barulho, mas as 3 noites que dormi lá foram ótimas porque o barulho a que ela se refere, é barulho de vida sabe, um carro passando, uma passoa falando longe e isso não me incomoda, pelo contrário, deu a sensação de estar viva fazendo parte do mundo.
A arquitetura da cidade é inglesa e meio cinza ou marrom. No verão fica tranquilo, pois tem muito verde para contrastar, mas no inverno, com tudo branco e "árvores de cemitério" deve ficar feio. Sim, aí você resolve parar para comer algo, a primeira língua é francês e o garçom fala em francês com você (que é muito lindo), mas é só falar que precisa falar inglês que eles mudam a língua. O interessante é que os garçons falavam francês com a Marina e inglês comigo e a gente falando "brasileiro". Tem cardápio em inglês e francês, a descrição dos produtos no mercado também está nas duas línguas. Tem gente aqui que só fala inglês e tem gente aqui que só fala francês. É muito engraçado ver uma pessoa que foi crianda falando francês, falar o inglês. Eles falam com sotaque, tipo o "h" é mudo, então "help"vira "elp". Agora, a moça do metrô só fala francês.
O atendimento nos bares e restaurantes é diferente. Espera-se muito para ser atendido (talvez esse seja o normal do mundo, mas o americano é que está sempre com pressa), os garçons não ficam perguntando a cada segundo se você precisa de algo (graças a Deus, porque se tem coisa irritante é ter de dizer a cada segundo que está tudo bem e de boca cheia então, não é digno!).Ah, a Marina fez uma fahitas ótimas e comemos na varanda. Ela disse que isso é muito comum lá (eles aproveitam bastante o tempo quente).
Tem padarias espalhadas pela cidade e isso faz toda a diferença na vida de uma pessoa. As coisas aqui são mais caras, a taxa é ainda maior que a do Alabama. Marina falou que lá é onde tem a maior corrupção no país, as taxas são as mais altas e os salários menores. Ah, uma coisa que achei o máximo é que os casais andam de mãos dadas, se abraçam, dão beijinhos na rua. Coisa fofa! (parece que nas cidades inglesas não tem essa cultura, pois esse tipo de comportamento é tipicamente francês).
E Montreal vai para o topo da lista da mudança. Já pensou, não ser humilhada cada vez que passa pela imigração americana? Fato é que preciso voltar no inverno para ver se continuo apaixonada assim pela cidade, mas pelo pouco que vi, moraria lá tranquilamente (e com muitos casacos para aguentar o inverno).